UKEB – Olá Megan, conte-nos um pouco da sua história.
MEGAN - Sou a filha mais velha de uma grande família. Sempre fui muito criativa, mas nunca muito encorajada por ser assim. Meus pais gostariam que eu me dedicasse com coisas mais práticas nas quais eles pudessem me ver por caminhos mais seguros para “vencer na vida”. Minha mãe é uma boa cantora e eu cresci ouvindo e aprendendo harmonia musical com ela. Minha mãe também toca piano e todos nós desde garotos tivemos de aprender “na marra”. Eu penso que se em vez disso eu tivesse um(a) professor(a) que me iniciasse em “boogie-woogie”,” ragtime” e “stride” eu teria tido mais motivação pelas aulas.Entretanto eu não tive sorte. Realmente não gostava daquelas lições. Eu aprendi os rudimentos de notação musical, mas achava muito difícil ler partituras. Então aprendia tudo de ouvido e fingia que lia as notas musicais
Me dei muito melhor com guitarra. Tive aulas de guitarra com meu irmão enquanto cursava o Colégio. O professor deixava que enviássemos músicas através dele, no estilo “punk” ‘rock” e “rock-rurais”, que era o que a gente mais gostava, e então ele as aprendia primeiro e em seguida nos ensinava.
Meu irmão mais jovem montou logo sua própria banda. Eu no entanto nunca consegui colegas que se interessassem em montar uma. Permaneci como cantora solista porque não consegui encontrar pessoas que quisessem formar uma banda comigo. Comecei a compor minhas próprias canções na Faculdade. Não me apresentei em público até que me mudei de Los Angeles (onde cresci) para São Francisco. Um amigo meu se apresentou num show livre, aberto para iniciantes. Depois de ouvi-lo, também decidi arriscar. Tinha então 20-21 anos quando apresentei pela primeira vez em público como vocalista e guitarrista/ukulelista. (Tenho hoje 44 anos).
UKEB – Qual foi o seu primeiro contato com o ukulele e quais são os instrumentos que você toca?
MEGAN – Na minha adolescência curtí muito “punk” e “post-punk”. Há muito de “ postura e atitude” nesse gênero - coisas constrangedoras que se amarram na ironia e na ação provocativa. Fazer uma retrospectiva disso é uma coisa pueril e banal, ao mesmo tempo, ao fazer isso, me faço um grande favor, na medida em que percebo que me abri para coisas as quais me tornei GENUINAMENTE interessada. Nos primeiros anos da década de 80, o ukulele estava ainda associado as imagens bregas da década de 1920 – coisa de calouros de Faculdades e Tiny Tim (N.T. - Tiny Tim foi um cantor americano, instrumentista de ukulele e um preservador musical, no período entre 1960 a 1996 quando fez seu último vídeo com uma banda de Punk Rock chamada Ism). Ele estava bem por fora da moda. Era um alvo fácil para os Punks. Então eu comprei um ukulele bem barato, em uma loja de instrumentos musicais ao redor de 1986., então comecei a estudar por conta própria e tocar com a ajuda de um livro de acordes da Mel Bay. Nunca tinha sequer tocado em um livro desse antes de comprá-lo. Não tive nenhum parente que possuísse um exemplar ou coisa parecida.
Nunca tinha visto um deles pessoalmente.Era fã de Carmaig the Forest, mas eu acho que comprei meu primeiro ukulele antes de estar ainda ligada na obra de Carmaig, Ao ouvir a versão de Cliff Edwards' para "Singin' in the Rain" para uma peça musical de 1929 quando eu estava na Faculdade, fiquei encantada por ele. Mas não busquei nada dele por um bom tempo até que achei numa loja, um álbum que trazia uma reedição de seus lançamentos. Comprei tudo o que pude. Foi nessa mesma época que ouvi falar da “The Ukulele Orchestra of Great Britain” na revista Folk Roots e adquiri alguns dos seus álbuns. Da mesma forma que o acordeon, o ukulele foi sendo redescoberto e trazido de volta a ribalta através de muitos artistas criativos. Hoje o ukulele tem um apelo incrível. Chego às nuvens com tantos artistas que estão se apresentando em estilos tão variados e diferenciados. Realmente estão expandindo a idéia de tudo aquilo que um ukulele pode fazer.
Eu sempre fui uma “strummer” e não uma “picker”. Não importa quantas vezes eu venha a praticar numa semana, eu sou incapaz de dedilhar uma guitarra ou qualquer instrumento de cordas,de maneira clara, limpa. Mal consigo dedilhar uma variante de baixo numa levada de guitarra country. Assim, quando adquiri lesões por esforços repetitivos em 1995, tive terminantemente de desistir de tocar instrumentos na maior parte do tempo, até o ano 2000. Não foi uma grande perda no mundo da música. Eu tocava decentemente minhas “levadas” no gênero punk. Entretanto,tocava mais para acompanhar meu canto.. Aprendi por mim mesma a tocar um pouco de outros instrumentos também.
Tenho agora uma grande variedade de novos instrumentos que uso em muitas gravações de 4 pistas. Estudo gaita de fole, apitos nasais, serrotes musicais, brinquedos de madeira, xilofone e outras coisas assim. Os principais instrumentos que usei em performances foram guitarra, ukulele e banjo tenor, quando comecei a tocar.
Agora,por ser muito doloroso para mim, tocar ukulele (ou muitos outros instrumentos) não estou tocando no meu álbum. Robert Armstrong toca uke em "The Gold Diggers Song (We're in the Money)" e Steven Strauss toca uke em "I Love to Sing" e "Someone's Rocking My Dreamboat". Steven é um musicista muito conhecido na area de San Francisco Bay, pelo seus conhecimentos e sensibilidade. Ele tem tocado com muitas bandas, incluindo a Penelope Houston's Band. É solista também e lançou um album somente de ukulele chamado "UKEBOX". Na primeira vez que eu o encontrei, ele estava gravando principalmente com contrabaixo. Ainda toca, mas há alguns anos atrás ele começou a tocar uke também. Eu o trouxe comigo para participar tocando ukulele em "Someone's Rocking My Dreamboat" porque Mike Da Silva, que tinha gravado e mixado o álbum durante o “workshop” em estudio, sugeriu que fizéssemos algo mais forte no espectro dos agudos. Robert poderia ter tocado uke, mas ele mora a 60 milhas ao norte de Berkeley e nós já tinhamos terminado a programação e terminado o esquema de gravações. Eu não desejava criar dificuldades para ele de novo ter de viajar de tão longe. Steven é tão bom a ponto de não ter de gastar muito tempo para ensaiar uma canção. Ele foi lá e gravou em apenas alguns “takes”. Mais tarde,enquanto fazíamos a mixagem em "I Love to Sing", senti que precisávamos do baixo. Tony Marcus, o guitarrista, podia realmente ter um bom balanço mas não tinha muito mais a oferecer. Eu estava realizando esse álbum com o orçamento pela hora da morte e não poderia pagar por todos os músicos e sessões que eu gostaria de ter. Então estávamos imaginando que seria mesmo somente guitarra e voz, até que percebi o quanto a música parecia pedir mais. Eu decidi que eu tinha de onde raspar o taxo e conseguir mais dinheiro de alguma forma e incrementar a orquestração. Assim chamei o Steven de novo. Steven não somente fez a linha do baixo como se ofereceu para tocar o uke também. E aí a cancão realmente decolou! É que de alguma forma eu senti que a canção não estava alcançando o potencial que me fizesse feliz e me levasse a dançar.
UKEB – Sobre o disco da Warner, de onde surgiu a idéia?
MEGAN – Em função de estar desabilitada e não mais poder tocar por mim mesma, eu contrato músicos toda vez que preciso e normalmente não posso pagar por isso. Assim eu não tenho feito apresentações ao vivo frequentemente. Isso significa que o público que eu conquistei quando eu era uma cantora-solista aos poucos foram se esquecendo de mim. Isso significou também que as performances perderam a característica do meu material original, assim que me tornei desabilitada. Tenho que me adaptar ao nível jazzístico que for comum aos músicos e assim eles usam as cifras existentes..
Este é o meu primeiro álbum e eu não estou segura se poderei pagar para fazer mais de um em minha vida. Assim eu tive de fazer uma escolha difícil. Faço eu um álbum com minhas canções originais mesmo sabendo que as pessoas que tem me visto nesses últimos 15 anos nunca as escutaram? Ou eu realizo algo mais próximo daquilo que elas já têm associado comigo? E por ultimo, como fazer “acontecer” o álbum? Será que não serei taxada como somente mais uma cantora de jazz? Sou admiradora e uma grande fã de canções que são desconhecidas mas que sejam boas. Gosto de trazer coisas para a atenção do público. Mas canções desconhecidas não vão fazer alguém comprar um álbum, a não ser que você seja alguém de renome. Eu também gosto de álbuns que contenham canções que façam um sentido de estarem juntas num álbum. Seja um tema ou uma trilha ou um conceito.
Não importa quanto eu goste das minhas musicas originais e queira gravá-las em estúdio o importante é colocá-las pra rodar. Decidi que seria melhor eu conseguir fazer algo que estivesse mais no estilo daquilo que as pessoas gostam de ouvir. Tive de prosseguir adiante mesmo estando limitada até para contratar um acompanhante. Seria melhor fazer um álbum de standard jazz, e era importante escolher um tema forte. Tive algumas idéias mas de repente deparei-me com a possibilidade de fazer canções baseadas em desenhos animados da Warner Brothers. Vi que tinha algum sentido nisso e me entusiasmava e que poderia ganhar as outras pessoas também. Utilizava muito algumas músicas de desenhos animados em partes das minhas apresentações. Desenhos animados da Warner Brothers sempre tiveram grande participação na minha infância (não só da infância) e são muito importantes para outras pessoas também. O tema musical sempre foi muitíssimo importante para os desenhos animados da WB. Os desenhos animados foram originalmente criados, ao menos parcialmente baseados na idéia de vender partituras musicais, cujos direitos de publicação lhes pertenciam. Eles queriam audiência para irem ao cinema e saíssem cantando a musica e assim comprarem as partituras. Assim, a canção é uma característica adicional tanto de um filme da Warner Brothers como também de um desenho Looney Tunes ou Merrie Melodies. Por falar nisso, "I Love to Sing" foi introduzido em um filme de Al Jolson - "The Singing Kid" mas apareceu tambem em Tex Avery Merrie Melodie "I Love to Singa" onde foi cantada por uma personagem chamada Owl Jolson. Eu sei disso, e como eu, um monte de gente tem saudades dos desenhos animados e de suas musicas. Com exceção dos mais recentes Looney Toons e Merrie Melodies, os desenhos animados não mostram normalmente a musica inteira. Os desenhos que a gente mais conhece hoje em dia, aqueles em que atuam Pernalonga, Patolino, Gaguinho e outros personagens, somente tocam pequenos trechos da canção,que geralmente não são cantadas, mas sim tocadas pela orquestra como parte das trilhas de Carl Stalling em desenhos animados.Muita pessoas não conhecem mais do que 10 segundos dessas musicas. Eu gostaria que as pessoas pudessem estar interessadas em aprender como a canção foi gerada..
Quando estou selecionando quais canções vou incluir no álbum eu procuro saber quais delas já são conhecidas. Não quero tocar somente canções conhecidas, mas também não quero cantar canções que já foram muito executadas. Então,por exemplo, embora eu ame "As Time Goes By" e ela é uma canção usada nos Looney Tunes, eu optei por não escolhê-la para cantar nesse álbum.A única música nesse álbum que eu cantei apesar de já existirem muitas versões é "Blues in the Night". Eu adoro essa canção ela tem estado no meu repertório há anos. Tento balancear tanto musicas lentas como músicas agitadas. Existem canções como "A Cup of Coffee, A Sandwich & You" que eu gosto mas não tem profundidade no conteúdo lírico. Opto por não executá-las embora eu goste delas. Outras,.como "Return My Love" de "What's Opera, Doc?" eu também gosto mas não a escolho porque não teria tempo de ensiná-la aos músicos e teríamos dificuldades de obter a licença. (a musica é de Wagner mas a letra provavelmente foi escrita por Michael Maltese, um letrista que trabalha em desenhos.)
UKEB – E como foi o processo de instrumentação e arranjo das músicas?
MEGAN – Como eu disse, o dinheiro foi definitivamente um fator limitante para mim. O ideal seria contratar 4 ou 5 músicos e pagá-los pelos ensaios e então gravar o álbum quando bem preparados em conjunto. É financeiramente impossível fazer isso. Me aproximei primeiro de Tony Marcus e depois de Robert Armstrong. Tony e Robert são ambos membros da The Cheap Suit Serenaders e tem tocado juntos por mais de 30 anos. Eles estão tão acostumados a trabalharem juntos de tal forma que eles entram em total sintonia e embalo muito rapidamente. Eu também quero muito trabalhar com eles pessoalmente porque são os caras mais legais do mundo. Ambos são multi-instrumentistas, e assim economizo uma grana contratando-os. Tony toca guitarra, mandolin e violino. Robert toca guitarra, guitarra havaiana, ukulele, banjo e serrote musical. Mike Da Silva muito generosamente se ofereceu para gravar e mixar o álbum. Tony faz as gravações iniciais no seu estúdio e depois continuamos com o Mike.
Inicialmente eu estava fazendo um álbum somente com Tony e Robert. Mas quando fomos mais longe e percebemos que queríamos adicionar um ukulele em algumas canções. Não quis incomodar o Robert trazendo-o de Berkeley (ele mora a 60 milhas de Berkeley) somente para gravar uma pequena parte. Assim foi que perguntei a Steven Strauss se ele gostaria de tocar. Eu já o tinha chamado em Brandon Essex anteriormente para fazer a linha do baixo em "The Lady in Red" porque nós realmente sentimos que a faixa pedia .Isso mostra como foi vagaroso o processo de criação do álbum Se eu tivesse planejado tudo antes, eu teria chamado Steven porque ele consegue fazer ambos, o baixo e o ukulele mas eu não estava pensando naquelas faixas naquele momento. Brandon veio e realizou um trabalho muito profissional no baixo. Ele foi excelente. Bastou pouco tempo e bumm – estava feito. É interessante comparar os diferentes trabalhos realizados por dois baixistas. Havia algumas musicas que eu antecipava como deveria ser a instrumentação. "The Lady in Red" foi assim. Eu nem sempre sou capaz de conseguir realizar o que eu quero, mas eu sei qual o som que eu gostaria de tentar na música. Seja um violino, acordeon ou uma guitarra solo. Mas houveram outras canções onde a orquestração ainda não estava claramente definida na minha cabeça.Tudo naquele álbum começou com guitarra base e voz.. Eu fui me acostumando a ouvi-las por semanas Algumas vezes você se acostuma tanto com o que esta ouvindo que você tem dificuldade em imaginar o que mais ainda poderia ser feito ou lembrar às vezes o que você já tinha imaginado antes. Algumas vezes os músicos faziam sugestões sobre quais instrumentos eles pensavam poderia ficar melhor, mas na maior parte eu ficava observando quais dos instrumentos que eles tocavam e escolhia o que pensava funcionar melhor. Ukulele era usado de forma a deixar o som da banda mais agudo. Eu penso que em parte é porque eu sempre fui uma “strummer” com o ukulele. Se eu tivesse sido mais uma “picker” eu poderia ter concebido outras alternativas para o ukulele fazendo o solo em algumas partes. Entretanto os dois instrumentistas de ukulele que eu dispunha - Robert and Steven – são dois experts. Ambos adicionaram alguns dedilhados muito legais, mesmo quando o ukulele estava em apoio para uma guitarra hawaiana ou a uma guitarra base. Existem algumas frases de ukulele, que são muito lindas se você ouvir com cuidado. Realmente tentamos colocar em evidência as melhores frases quando fizemos a mixagem do álbum.
Um comentário a parte - nós estavamos completamente rodeados por ukuleles enquanto gravávamos esse álbum. Mike Da Silva é um talentoso luthier de ukuleles. Sua oficina/atelier esta repleta tanto de ukuleles que ele está fazendo como também com os de sua coleção particular de instrumentos vintage. Assim estávamos rodeados por velhos Martins, Johnny Marvins, Roy Smecks, ukes de plástico bem baratinhos dos anos '20s a '50s, e mesmo de maravilhosos instrumentos feito a mão nas décadas de 1800s.
UKEB – Eu gosto muito dos desenhos da Warner, e ouvir as canções na sua voz me trouxe boas recordações. Qual seu sentimento em relação as canções?
MEGAN - Sinto muita nostalgia também. Até mesmo quando me acompanhava cantando, sempre toquei muitas canções da famosa “Golden Age of American Popular Song” ( Era de Ouro das Canções Populares Americanas). Isso foi por volta dos anos 29 a 50. Eu não assisti “The Gold Diggers of 1933” antes dos meus 30 anos embora eu já conhecesse a música de "The Gold Diggers Song (We're in the Money)" desde garota. Tem algumas gravações que até fundiram minha cabeça de tanto que Carl Satlling as usava nos desenhos da Warner Brothers. Algumas das músicas eram muito simples. Não eram aquelas que chamávamos de “clássicas” “The Latin Quartier” é um exemplo, o que nós chamamos de uma música casual. Mas “Blues in the Night” é uma das melhores canções já escritas, em minha opinião. Um verdadeiro clássico. Algumas das músicas do álbum eu vou sempre ouvir na voz do personagem. Eu escuto sempre o Pernalonga cantando “Someone's Rocking My Dreamboat" e Michigan J. Frog cantando "Hello Ma Baby".
Embora esses desenhos animados na verdade tenha sido feitos para serem exibido antes de um filme longa metragem, muitos de nós os vimos na TV quando éramos crianças. Para muito de nós a infância é uma carinhosa lembrança. Uma época sem complicações, que não tínhamos que nos preocupar com profissão, contas e impostos a pagar. Então, os desenhos e as músicas associadas a eles, tem o poder de fazer nossas preocupações irem embora e faz com que a gente se alegre um pouquinho. Sempre teremos sensações muito boas ligadas a esses desenhos animados clássicos e às melodias que nós aprendemos deles.
UKEB – O que você sabe sobre o Brasil e sobre a música brasileira?
MEGAN - Mais ou menos ao redor de 1987 eu estava chateada com o que estava acontecendo com os rocks alternativos, comecei então a descobrir a World Music. A revista Uk’s Folk Roots Magazine realmente ajudou-me a descobrir novas coisas. Eu tenho pouco conhecimento da forma como hoje se apresenta a Tropicália, o Samba, a Bossa Nova, o Choro e o Forró. Eu ouvi o Oludum e outros grupos de percussão similares, mas não sei como é chamado esse gênero de música.
Embora não esteja, com certeza, atualizada com o cenário brasileiro, eu diria que meu conhecimento parou em algum lugar entre 1930 e 1990. Muito do que sei veio de várias compilações de álbuns, então não consigo citar artistas individualmente cujos álbuns eu viesse a adquirir. David Byrne tem sido bom na divulgação de vários artistas brasileiros no mundo, a Anglophone.Luaka Bop e a Rykodisc também lançaram bons discos compilados. Tem um coisa interessante, eu ouço mais música brasileira do que vários irmãos meus que vieram adotados do Brasil. O Brasil sem dúvida tem uma história musical muito rica. Não falo português e meu nível de espanhol permite apenas entender as letras sem tradução. Entretanto as letras da canções brasileiras soam muito poéticas e eu gosto delas. Só de ouvir as vozes e mesmo sem entender tudo o que estão cantando, aparentam ser muito ricas e expressivas. Com certeza eu tenho muito mais a aprender sobre a diversidade histórica da música do Brasil e seu cenário.
Isso pode parecer estranho, mas eu sou uma ENORME fã de Carmen Miranda. Realmente fiquei chateada por não ter dinheiro suficiente para duas coisas: lançar o meu álbum e juntamente fazer uma apresentação ao vivo em tributo ao centenário do seu nascimento, no ano passado. Esse é outro exemplo, como no caso do ukulele, que era algo que eu perseguia de uma maneira “punk” e acabei interessada, mas não de forma irônica. Isso também tem relação com os desenhos da Warner Brothers, porque foi assim que eu conheci Carmen muito antes de vê-la aparecendo em filmes ou ter ouvido alguma das suas canções. Ao contrário, eu via Pernalonga ou Pato Donald, fazendo de forma transformista, uma imitação de Carmen. Então, foi assim que eu conheci a imagem desenhada de uma Baiana muito antes que conhecesse Carmen e muito antes de saber o que era uma Baiana.
Ela se tornou uma espécie de figura humorística, o que eu considero muito triste. Não que eu não goste daquele tipo de humor em desenhos da Warner Brothers e filmes, mas porque penso que ela ao fim, tornou-se uma mulher que não foi muito apreciada nem no Brasil nem nos Estados Unidos. Ela chegou a ser uma grande estrela aqui e depois ficou presa a um estereótipo de personagem, que veio a limitá-la muito como artista. E no Brasil, penso eu, foi considerada muito comercial. Todos ignoram seu talento. Quando finalmente eu a vi como participante em um filme americano, na hora entendi o porque,. Por ser tão atraente, logo eles que a viram na Broadway em “Streets of Paris” e “Sons o’Fun” imediatamente assinaram um contrato para levá-la Hollywood. Ela era tão cheia de vida! Seus olhos eram como piscinas cintilantes – muito convidativos. Sua voz não era a melhor de todas. Era legal. Era bonita. Mas foi sua habilidade como intérprete e performer, aliada a um timing para a comédia que fez dela uma estrela aqui nos Estado Unidos. Digo aqui,porque mesmo sabendo que ela já era uma estrela no Brasil, nunca estivera aqui antes. Eu não sou qualificada para julgar como o público brasileiro a via e como se tornou proeminente aí. De qualquer forma, eu realmente amava sua música e também o seu grupo “O Bando da Lua”. Eles eram ótimos. Eu tenho muito pouca coisa de samba daquele tempo e gostaria muito de conseguir mais. Tenho uma compilação de grupos de samba dos anos 40 chamado “Samba da Minha Terra” que é coisa linda.
Não sei exatamente porque eu tenho a tendência de gostar de coisa a moda antiga. Old jazz” (pré anos 50), música “old Hawaiian (pré anos 50), calipsos antigos ( pré anos 60) e assim também para o samba. Sou mais afim de samba da época da Carmem Miranda do que os do período posterior. Ao antigos gêneros musicais normalmente me excitam mais do que os que vieram depois.
São sons mais vivos. Possivelmente porque não há truques de estúdio envolvidos na gravação. Tinham que tocar bem mesmo, porque viviam mais de apresentações ao vivo do que da venda de discos. Tinham de ser capazes de fazer tudo ao vivo,
UKEB – Você esperava que o seu disco tivesse repercussão em um país que não tem tradição em relação ao ukulele?
Suponho que poderia dizer que fiquei surpresa em encontrar um blog especifico de ukulele no Brasil. Não me surpreende que existam instrumentistas de uke no Brasil, porque é um instrumento popular em muitos países devido a sua portabilidade. Aliás estou curiosa em saber como o som do uke se diferencia do cavaquinho, já que eles são instrumentos tão próximos. Fiquei muito surpreendida vendo que um blog no Brasil selecionou o meu álbum, tendo em vista tantos empecilhos que defrontei na promoção do álbum (falta de grana, falta de experiência na promoção, vagareza no planejamento com todos que trabalham comigo), o que definitivamente considero, é que o álbum poderá ser atrativo em qualquer lugar onde os desenhos animados da Warner Brothers são conhecidos e amados.
UKEB – Você acha que o fato de tocar ukulele neste álbum possa afetar positivamente o seu desempenho nas vendas?
MEGAN – Penso que a venda do álbum não será afetada negativamente porque existe ukulele nele. Isso ao menos é positivo. Nós temos uma tradição do ukulele nos EUA mas ele nunca foi um instrumento primordial como o piano e a guitarra tem sido. Foi uma moda que entusiasmou muito por um tempo nos EUA nos anos 20, ele apareceu no tempo em que tudo que fosse hawaino era muito chique, Foi com certeza associado ao anos 20 na epoca das “Flapppers” (N.T. mulheres jovens dos anos 20 que mostravam desdém com as roupas tradicionais e ao comportamento social da época) que se tornaram mães e os filhos cresceram. Os filhos tinham uma visão banal do instrumento porque eles o associavam com seus pais. As coisas do tempo dos pais nunca são legais para os filhos. Deduzo que o uke teve um renascimento ao final dos anos 50 porque então havia pouco “revival”dos anos 20 ( Coisa do tipo “Quanto Mais Quente Melhor” shows de TV produzidos pela Warner Brothers chamados “The Roaring Twenties” – N.T. é uma frase que enfatiza o dinamismo social, artístico e cultural do período que descreve os anos 20). Então isso voltou um pouquinho quando Tiny Tim se tornou famoso. E tornou-se fora de moda de novo, até que os “punks” começaram a aceitá-lo. Mesmo então, teve um renascimento gradativamente. Levou cerca de 10 anos para que ele chegasse a saturação e agora já passou tanto tempo que há uma grande chance dele não cair de moda de novo. Tornou-se mais uma alternativa como instrumento. Muitas pessoas gostam dele pela sua portabilidade, é leve, e relativamente fácil de aprender Se eu tivesse usado o ukulele em todas as faixas, teria de cuidar de um problema que seria de fazer algo diferente, porque o uke é muito aceito no esquema alternativo de hoje em dia. Existem um número muito grande de bons instrumentistas rodando. Não quero ser mais uma a usar o ukulele como uma alavanca saudosista para simbolizar um jazz/cabaret legal. Hoje em dia existem músicos de ukulele aos montes, assim tocar o “feijão com arroz” não é o bastante. Ou você tem de ser vituosamente bom no uke ou tem de usá-lo na categoria de uma guitarra. Não dá para usá-lo para “rolar um esquema”
UKEB – No final do ano você liberou o disco para download gratuito ou para quem quisesse pagar, pudesse escolher o preço. Você pretende fazer isso novamente?
MEGAN - Talvez eu faça isso de novo. Não posso fazer permanentemente porque eu tenho ainda de quitar meus débitos que tive na confecção do álbum. Mesmo fazendo isso com um orçamento muito apertado, contando com a ajuda dos amigos, foi muito difícil. E tem mais, como cantei músicas da Warner Brothers que detém os direitos delas, no lugar das músicas que eu mesmo compuz., então, ainda tenho de pagar a parte que lhes cabe em cada álbum que eu vender, mesmo que tenha sido doação da minha. Isso me custa 25% do custo que tive para fazer o álbum, somente pela licença das músicas da Warner Brothers. Então não dá mesmo para bancar a doação o tempo todo. Entretanto fiz mesmo ”a promoção pague quanto você quiser – mesmo que seja nada”, em dezembro de 2009, porque eu realmente queria que as pessoas ouvissem o álbum. Estou fazendo isso tudo por minha conta
Não tenho agentes ou pessoal de relações públicas. Isso torna as coisas um pouco mais difíceis de divulgar e fazer com que as pessoas tomem conhecimento do álbum. E não somente porque eu esteja fazendo tudo sozinha, mas porque nunca tinha feito isso antes. É um grande aprendizado. O boca a boca é muito importante. Quando alguém ouve o álbum e gosta e compartilha com seus amigos o quanto gostou dele, ajuda muito no crescimento do álbum. Então vale a pena correr o risco de uma promoção restrita como essa.
Durante a promoção, calculo que 1/3 das pessoas baixaram o álbum de graça. Alguns pagaram, mas um preço menor do que poderia ser. Alguns pagaram exatamente o quanto o álbum custou e outros pagaram muito mais do custo do álbum, Foi interessante isso, como o público respondeu a promoção. Eu espero que eles curtam o álbum e comentem com seu amigos
UKEB - O que você está ouvindo no momento?
MEGAN – Um box da “ Bear Family”chamado “West Indan Rhythm: Trinidad Calypsos 1938 – 1940”
UKEB - Como você define o seu estilo musical?
MEGAN -Isso pode parecer uma resposta “clichê” mas é que realmente me considero uma cravelha. Sigo o mesmo caminho em que estou pelo resto da minha vida. Sou uma generalista. Tenho muitos interesses, então prefiro não me especializar. Farei apresentações em qualquer gênero de música que eu pense ser bom.
Minhas canções originais variam do ragtime até world music Quando me acompanho e canto, uso guitarra, uke e banjo. Toco pop, rock, Kurt Weill, temas de filmes, country clássico, calypso que for. Meu fator limitante, na verdade, se resume aos músicos que encontro para trabalhar comigo.Alguns somente trabalham dentro de um ou dois estilos e quando isso acontece, me enquadro nos estilos que eles fazem.
Se eu tivesse que definir meu estilo, eu diria definitivamente que sou uma crooner, com ênfase marcada em instrumentos acústicos. Eu tenho muitas músicas de “dor nos cotovelos” em meu repertório. (sabe,,. daquelas que falam de um amor por alguém, geralmente não recíproco). Gosto de coisas que as pessoas consideram inovadoras. Gosto daquilo que não é comum, pouco conhecido mas de boa qualidade. Gosto de assuntos que tenham um bom senso de humor.
Eu nunca tive aulas de canto mas tenho tentado educar-me de várias maneiras usando o instrumento que é minha voz. Eu pratico sozinha o “yodel” por exemplo ( N.T. “yodel” é a técnica vocal que passa rapidamente do canto de peito ao falsete rapidamente). Minha ambição é usar minha voz como um instrumento e cantar usando diferentes técnicas caso a música requeira. Não alcancei anda toda a habilidade que eu muito quero, mas é esse o meu objetivo.
UKEB – Parabéns pelo seu trabalho, o disco ficou maravilhoso. Agradeço muito pelo seu tempo. Deixe uma mensagem para nossos leitores.
MEGAN -Meu muito obrigado pelo ”blogging” com relação ao meu álbum tendo disponibilizado-o no seu site para que o público o ouça. Sinto me honrada por você ter gostado. Agradeço aos ukulelistas brasileiros por estarem interessados nesse instrumento, mantendo-o vivo mundo afora.
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